Dinis Manuel Alves | Lobito | 1958

não se deixem de estórias.

Dinis Manuel Alves | Lobito | 1958

Um blog, porque o árbitro não faz o monge.

Dinis Manuel Alves | Lobito | 1958

telhados de vidro, coração de cristal, salpicos de orvalho, pão com manteiga acúcar e canela, poço da morte. De que festa é a nostalgia?

Dinis Manuel Alves | Lobito | 1958

Odete, nelson, nelsito, nocio, inês, mariana, lobito, são joão, restinga, mampeza, LALA, colina da saudade, moçâmedes, rua das hortas, meda, coimbra, lousã, aveiro.

Dinis Manuel Alves | Lobito | 1958

pista de carrinhos, pentax, eusébio, nikon, helicóptero, ayrton, big apple, liberdade, mini-honda, fraternidade.

Dinis Manuel Alves | Lobito | 1958

deu luz aos olhos, perfumou as rosas, deu ouro ao sol e prata ao luar. E pôs as estrelas no céu, fez o espaço sem fim, deu luto às andorinhas, e este blog a mim.

sábado, 2 de novembro de 2013

Numa sala do LALA, que foi minha e de nós todos, [COM VÍDEO]

Quis ficar sozinho.
Os putos de bata branca perceberam, ninguém me ligou nenhuma.
Subi, máquina trémula, filmando os passos com solas ecoando tropel de há muitos anos atrás.
Entrei na sala e chorei, mesmo antes de me ter sentado lá ao fundo.
A sala ajudou, vazia que estava.


Fui sentando um a um, nomes com rosto, outros sem.
Sentei o Édio atrás de mim, como sempre fica um Édio que escolhe a mesma turma de um Dinis.
Desta vez a Dra. Aline não me mandou para a rua, falta de material para não deitar as boas notas borda fora.
Eu sei que os poemas que me apanhou dedicados ao puto que trazia na barriga e fez questão de nos dizer de produção independente, sei que não tinham lá grande graça, mas não persisti e não fui para poeta.
A Dra. Aline tinha aura, já lhe trauteáramos o nome antes dela chegar cara-pálida do puto, acompanhando Christophe.
J'avais dessiné sur le sable / Son doux visage qui me souriait / Puis il a plu sur cette plage / Dans cet orage, elle a disparu / Et j'ai crié, crié, Aline,

Sentei o Amaro da Luz, colega até findar a faculdade, e o Luís*, colega até findar a faculdade e por três anos colega de quarto, em Coimbra, na Emilinha, no prédio do Pigalle, no Lucas. 
Sentei a Nô, sempre endiabrada.
Sentei a Virgínia* e a Paula, espreitei pela janela mas não vi o Reitor que mandou chamar o meu pai por partida que fiz às duas, eu julgava que era brincadeira inocente mas era grave.
Não me recordo do castigo, se houve.
Não encontrei as canetas de feltro para pintalgar umas folhas com os desenhos psicadélicos tão ao gosto do “Construssons”.

Sentei a Regina ao meu lado na fila na frente da aula de desenho e zanguei-me com o ensaio de humor falhado do prof. de Desenho. Inacabado:
“Imaginemos que o Dinis era o boi e a Regina era a vaca”.
“E o sotôr era o burro…!”. Tinha mesmo que acabar ali, e eu na rua.

Também havia um padre e uma prof. de Matemática que me deu explicações nas férias de Março do 5.º ano, aulas de príncipe, preparando-me para outras explicações em turba-multa, no Compão. Se não passasse a Matemática não dispensava dos exames, e lá dispensei.
Não me lembro de vintes nas pautas, nem dezanoves, se calhar dezoitos. Mas que fossem dezassetes e valiam tanto como os catorzes, porque era com 14 que dispensávamos dos exames, dispensar era o máximo e só isso interessava.

O Gilberto e o João Acúrcio chegaram atrasados, mas deixei-os entrar. Ao Valdez também.
Junto ao quadro negro vi a professora do boca-de-sapo que um aluno qualquer roubou por umas horas para ir à inauguração da fábrica da Coca-Cola, lá junto às salinas que eram junto ao meu bairro e que nos salgavam de dor berrante as feridas quando caíamos a jogar futebol.
O nome já não tenho comigo, mas sei que era uma Senhora, que nos desabafou a sua tristeza porque não era preciso roubar o carro, se ele lho tivesse pedido, ela emprestava-lho sem hesitar.
Sentei a Carmo, depois a Mila, que mesmo sendo muito bonita e da Restinga, me escolheu para seu par no Baile de Finalistas.

Também já não tenho comigo o nome do puto traquina que pôs o Lobito em polvorosa com partida que pregou em programa de concursos do Jorge Perestrelo* no Rádio Clube do Lobito.
Acho que o encontrei há anos em Arganil, quando acompanhava uma acção de campanha de Pedro Santana Lopes.

Ele ligava para casa das pessoas, fazia uma pergunta simples para todos ganharem geladeiras e mais prémios bons. Quando o Jorge viu fila imensa de “ouvintes” à porta do Rádio Clube, veio ao microfone enviar mensagem cifrada, que só descodificámos quando o puto apareceu de cabeça rapada no LALA. Castigo do pai, mas ele jurava que havia de continuar a mangar com a malta.
Invejei-o e ao longo da vida prestei-lhe algumas homenagens, imitando-o.

Ouvi as V5 frenéticas, vi o carrinho dos sorvetes lá fora e umas Mini-Hondas a mandar banga.
Pai, prometeste-me uma se eu dispensasse no 5.º e não ma deste. Mas eu gosto na mesma muito de ti.

*in memoriam

Lobito, 15 de Outubro de 2013, 38 anos depois.

Dinis Manuel Alves frequentou o LALA entre 1971 e 1975 (3.º ao 7.º ano).

Liceu Almirante Lopes Alves (LALA), Panorâmica, 2013 [VÍDEO]

Panorâmica do Liceu Almirante Lopes Alves, hoje designado Escola do 3.º nível Comandante Saydi Mingas. Lobito, 15 de Outubro de 2013.



Projectado por Francisco Castro Rodrigues (1920) e localizado entre a linha do caminho‐de‐ferro e uma zona de expansão residencial do Lobito, o Liceu, inaugurado em 23 de setembro de 1966, iniciou o seu funcionamento nesse mesmo ano.
As instalações existentes são a parte construída de um programa liceal mais vasto, composto por blocos autónomos, unidos por galerias cobertas, e espaços exteriores de função desportiva e paisagística. As temperaturas elevadas que caracterizam o clima local foram determinantes na implantação dos edifícios no sentido noroeste‐sudeste, recebendo nas fachadas maiores os ventos dominantes de sudoeste, na disposição longitudinal das salas de aula e no desenho dos seus lados maiores, com grelhas de betão e lâminas de vidro de abertura regulável.

Um Liceu ao Ar Livre, segundo o seu autor. Nele funciona atualmente a Escola do 3.º Nível Comandante Saydi Mingas. Os corpos alongados, de proporção horizontal, com três pisos, exibem a sua ossatura estrutural, em betão aparente, de forma exemplar; as séries moduladas das salas de aula, que formam parte significativa da fachada, abertas, estão separadas/protegidas do exterior pela ampla grelhagem em blocos, aspecto que atribui uma grande leveza visual ao conjunto, para além do mais, muito resistente à degradação do tempo e à falta de manutenção.
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